sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

As peripécias de um furacão.


Muito raramente vejo os noticiários das televisões e o pouco que sei da actualidade ouço-o através de um pequeno transístor que me acompanha durante parte do dia.
Desta vez, porém, as notícias alarmantes da aproximação de um furacão - o “Gordon”- atraíram a minha atenção para este fenómeno atmosférico que nos iria atingir - um furacão.
Nem mais. Um furacão nas nossas Ilhas. Começara a ficar decepcionado com o anti – ciclone dos Açores que nos ameaçava abandonar.

Após mais um dia labor, colei-me ao canal da RTP - Açores e então pude certificar – me que não haverá tempestade que nos apanhe desprevenidos.

Ainda durante a tarde, plena de sol, as rádios informavam : " o alerta vermelho foi accionado e o presidente do Governo regressa de Lisboa, com urgência. Entretanto o primeiro ministro já prestou a sua solidariedade, disponibilizando a ajuda necessário para tudo o que for preciso".

Ao fim da tarde, a RTP-Açores mostra o gabinete de crise em reuniu de emergência (todos com ar risonho e descontraídos) e pela boca do seu presidente soubemos que as escolas, creches, jardins de infância, e também a universidade, iriam fechar, que estavam todos os mecanismos e todos os meios a postos, que se encontravam 300 bombeiros e mais não sei quantas máquinas de prevenção e que os serviços estão historicamente treinados para situações destas.
Em nota de rodapé se informava que os Tribunais iam encerrar, certamente com medo do “Gordon”.

Na ronda que a nossa(?) televisão fez por todas as ilhas, enquanto anunciava ventos de 170 Km/h e ondas de 16 metros , se mostravam idosos com muito medo. A dada altura binda-nos com um cenário bem à moda americana - duas mãos que facilmente pregam tábuas na fachada de cimento de uma casa para protecção de uma janela.
Os repórteres, de prevenção durante toda a noite em todas as ilhas, diziam, nomeadamente:
O da Horta ” ...assistimos a um dia normal de verão...”.
Nas Lages do Pico “...o vento não passa de uma brisa. O tempo está abafado. O mar está calmo.” Em S.Jorge “...o vento e o mar mantêm-se calmos e sem chuva. O mar também calmo”.
Na Graciosa “...vento normal. Mar sem agitação”.
O da Terceira “ ...não chove. Não há vento. Estão 800 homens de prevenção ...a marina tem os cafés abertos...”. Aqui, um dos entrevistados, com óculos de sol e ar de veraneante, afirmava “ não me lembro de temporal nenhum assim. A coisa está feia.”
Em Stª Maria “... está tudo calmo e o céu estrelado...”.

No dia seguinte, de novo no meu local de trabalho, através do meu inseparável transístor soube que a protecção civil não tinha registado qualquer saída dos corpos de bombeiros nem tinha havido qualquer dano . Por fim, no serviço informativo das 10h o repórter anunciava que o furacão se tinha transformado numa tempestade extra tropical e que “...o executivo açoreana foi repousar depois de muita preocupação”.
Na imprensa, um dos diários informava que as companhias aéreas mantiveram todos os voos previstos.
Também soube que não é preciso haver prevenção na limpeza das grotas e ribeiras, cujos ramos e arvores caídas interrompem o curso normal das àguas; nem na orla marítima em perigo de derrocada, onde continuam a existir habitações com famílias a viver; nem, tampouco, com os taludes das bermas das estradas, que habitualmente caem e interrompem a normal circulação de viaturas, quando chove mais intensamente
Enfim, tudo como fora previsto.

Felizmente!

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