quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mesmo com Sorrisos

Os dados recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística sobre o último Inquérito às Despesas das Famílias 2005/2006 foram manchete da comunicação social nos Açores e assunto para a realização de um dos programas da RTP- Açores – o estado da região. O destaque da notícia, a que mais convinha, foi todo para a “revelação” de que o rendimento líquido anual das famílias dos Açores é superior à média nacional.
Não fora as explicações dadas pelos economistas convidados naquele programa televisivo, embora timidamente expressas, os sorrisos e o ar de extrema felicidade que nos pretendia transmitir o responsável pela Secretaria Regional da Economia ali presente quase me contagiava.

A verdade é que os 6 % de rendimentos a mais que nos distancia da média nacional é muito pouco, tendo em consideração os montantes e a grande abrangência das ajudas financeiros que tem entrado na Região e que deveriam reflectir-se nos rendimentos das famílias, sobretudo nos que tem rendimentos de trabalho por conta própria. Refiro-me a verbas provenientes dos vários programas comunitários para o desenvolvimento da nossa agricultura, da pecuária e pescas.

Pouco ou nada se fala dos indicadores que colocam os Açores no fim das demais regiões do país. Das sete Regiões NUTS II de Portugal, é nos Açores que as famílias tem maiores gastos com a alimentação e bebidas não alcoólicas. Os Açores são segunda região onde as famílias mais despesas têm com habitação, transportes, água, electricidade e gaz. As famílias açorianas são as que menos gastam em hotéis, restaurantes, cafés e similares, o que demonstra o quanto lhes é financeiramente difícil frequentar estes estabelecimentos. A inflação registada é superior à do continente e à da Madeira, contrariando o princípio de que a aplicação de taxas reduzidas do IVA nos Açores seria para compensar os custos dos transportes de produtos e mercadorias.

Os indicadores sobre o risco de pobreza e a desigualdade revelam que 40% da população residente em Portugal viveria abaixo do nível de pobreza se não recebesse apoios sociais. Mesmo com apoios sociais, 18% da população vive abaixo da taxa do risco de pobreza (adultos que recebem menos de 366€ por mês). Aqui estarão incluídos as muitas centenas ou milhares de idosos que nos Açores recebem pensões mínimas. As de velhice e invalidez são 236 €, a pensão social são 181 €, e a de sobrevivência são 141 € . De facto, como os idosos costumam dizer, “nem dá para comer”. Não admira pois que os levem a agradecer e a oferecer cisnes brancos ao Chefe do Governo que, em ano de eleições, lhes oferece passagens aéreas inter ilhas, com estadia e pensão completa durante uma semana, por 25 euros.

E como seria se as 4 868 famílias beneficiárias do rendimento de inserção social nos Açores deixassem de receber apoio? Em menos de quatro anos, ou seja entre Maio de 2004 e Fevereiro de 2008, o número de beneficiários do rendimento de inserção social aumentou de 1 253 para 18.033. Como seria se deixasse de entrar na Região o montante mensal de l.161.000 € para suprir as suas necessidades básicas?

E se o Banco Alimentar contra a fome deixasse de cumprir a sua missão? Nos últimos três anos recolheu 750 toneladas de alimentos para dar aos mais pobres, só na ilha de S. Miguel. No ano de 2004 distribuí 220 toneladas por 9.980 pessoas, em 2005 foram 247 toneladas para 10.377 pessoas e em 2006 os números aumentaram para 277 toneladas para 10. 517 pobres. Como se vê, sempre em crescendo.

Mesmo com sorrisos, é muito pouco para uma Região com Autonomia e com governos próprios há mais de 30 anos.

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