A FRIEZA DOS NÚMEROS
Numa recente notícia do jornal “O Público” pode ler-se que de acordo com o ultimo relatório semestral da Comissão Europeia os salários reais dos trabalhadores portugueses por conta de outrem desceram 0,9%, em 2006 – a maior descida verificada nos últimos 22 anos. Isto significa que o aumento dos preços ao consumidor – a inflação, foi superior ao aumento dos salários em quase um por cento.
Contrariamente ao que é afirmado pelos responsáveis do governo estes e outros dados estatísticos comprovam que a grande maioria das famílias portuguesas está cada vez mais pobre.
Nos Açores a situação ainda será pior.
Se aquele relatório da Comissão Europeia teve por base o índice de inflação média registado em Portugal em 2006, na nossa Região Autónoma a quebra dos salários reais terá sido maior porque a inflação registada nos Açores foi superior. Os dados divulgados relativos ao 4º trimestre de 2006 indicam as seguintes percentagens de inflação – 2,5% em Portugal, 3,6% nos Açores e 1,6% na Madeira
Famílias existem que a muito custo conseguem ter um salário que lhes dê para a alimentação, para a renda da casa ou a prestação que têm de pagar ao banco e para os impostos que não param de aumentar. Outras há, e muitas, que sentem grandes carências alimentares.
O problema da pobreza nos Açores é bem elucidativo na preocupação dos responsáveis pelo Banco Alimentar contra a fome em S. Miguel quando apelam “à coragem e bravura de muitos heróis que durante o ano conseguem fazer chegar alimentos a muitos milhares de pessoas carenciadas ”. Informações divulgadas pelo Banco Alimentar de S. Miguel dizem que em 2005 foram distribuídos 250.000 kg de alimentos por 1700 famílias e que em 2006 o número aumentou para 286.000 kg de produtos alimentares que beneficiaram 2.310 famílias, números que poderão aumentar em 2007.
É nos Açores que se regista a maior percentagem de beneficiários do rendimento de inserção social (rendimento mínimo), sempre num crescendo que não pára. É assustador a forma como estes números têm vindo a aumentar nos Açores. Se em Maio de 2004 havia 1 253 beneficiários, em Fevereiro do ano seguinte já eram 11 451 para no princípio de 2006 serem 17.196. Em Fevereiro deste ano perto de 17.800 pessoas viviam do rendimento de inserção social, o equivalente a 7,6% da população portuguesa residente.
A frieza destes números é um grande indicador da dura realidade do dia a dia de muitas centenas de famílias açorianas
Tudo isto num tremendo contraste com a aparente fartura que nos tentam transmitir.
Cláudio Almeida
P. Delgada, 10 de Maio de 2007
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Marcadores: A União, Correio dos Açores
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